Abertura da mercearia Barbosa´s marca o início da retomada econômica e produtiva
No cruzamento das ruas Dona Olinda e Carlos Pinto, no novo distrito de Bento Rodrigues em Mariana (MG), foi aberto o primeiro comércio da comunidade. Agora, os visitantes e futuros moradores passam a contar com um mercadinho e suas gôndolas repletas de produtos de conveniência. Em vez da fachada lisa, até então comum àquela construção, o letreiro, elegante, sinaliza: Barbosa’s Mercearia. O nome é uma homenagem ao José Barbosa, pai do comerciante Weberson Arlindo dos Santos, de 42 anos, conhecido como Webinho.
Iniciativa da Fundação Renova para retomada produtiva do novo Bento, a abertura da mercearia irá atender, inicialmente, cerca de dois mil operários que trabalham nas obras em curso. Esse é um momento intermediário que significa muito para o cotidiano do novo distrito. “O sentimento estava travado. Mas, hoje, quando eu vi as coisas sendo colocadas no lugar, a lágrima começou a sair, viu? O sentimento é de satisfação, realmente”, declara Webinho, entre uma e outra visita de curiosos que vieram conhecer o local.
Para a chegada das primeiras famílias de moradores, o mercado de Webinho estará em plena atividade, aprimorado por vários aprendizados da atual fase de testes. A estratégia de abrir a mercearia antes da chegada dos primeiros vizinhos não foi ao acaso. “Quem é o grande público, hoje, desse mercado? Todo mundo que está trabalhando aqui. É um excelente laboratório do ponto de vista de abastecimento, de estoque, de giro, de acompanhamento de vendas”, explica o especialista em desenvolvimento socioeconômico da Fundação Renova, Carlos Henrique Rios de Macedo.
Por enquanto, o mercado oferece uma lista enxuta de produtos, com itens de alimentação não-perecíveis, de higiene pessoal, de limpeza e utilitários. As mercadorias, em torno de 200 variedades, são dispostas em prateleiras na área mais à frente do salão e farão companhia a um futuro setor de padaria e de alimentos perecíveis. Um balcão, ao fundo do mercado, fará essa separação entre um e outro setor, que juntos somarão 450 mercadorias. “Conforme vão aumentando os moradores, eu vou aumentando o número de produtos. Por enquanto é um mercado menor”, comenta o dono do local.
O horário de abertura e fechamento também é provisório. Por agora, Webinho levanta as portas às 8h e encerra o expediente às 18h, nos dias de semana, e até as 13h aos sábados. Porém, os planos indicam o fechamento às 21h de segunda a sábado e, ainda, o funcionamento aos domingos de manhã.
Webinho celebra o fato de voltar a trabalhar em família. “A gente vai manter a família trabalhando unida. Agora vou ficar em casa, e no serviço também, com minha família”, conta o comerciante. O trabalho familiar não será novidade, pelo contrário. No antigo Bento, o negócio era gerido pelo pai de Webinho, José Barbosa que, aposentado, repassou o comando à nova geração. Tal como no negócio anterior, haverá também o bar, com sinuca, totó, petiscos e cerveja gelada, gerido pelo irmão de Weberson. “O mercado que tinha lá era semelhante ao da aqui. O pai montou na década de 1980. O que mudou mesmo foi a arquitetura. Porque lá no Bento era mais rural e aqui ficou uma arquitetura mais moderna”, relembra Webinho.
A abertura do mercado do novo Bento faz parte da transição para o funcionamento efetivo do distrito. O “mercadinho”, como é chamado carinhosamente, também funciona como ponto de encontro da comunidade.
Passos para a retomada econômica
A reparação do antigo comércio e sua remodelação fazem parte de um conjunto de ações ligado ao programa de reassentamentos da Fundação Renova. Para além da construção em si, o plano prevê a oferta de condições para que a comunidade restabeleça a vida social, cultural e econômica.
No caso da mercearia, há duas frentes de trabalho. A primeira, finalizada, é a obra, que seguiu novos padrões exigidos pelo plano diretor de Mariana: banheiros para funcionários e clientes, inclusive portadores de deficiência, rampa de acesso a cadeirantes e outras adequações de conforto e segurança. A primeira fase incluiu também a instalação dos equipamentos, como gôndolas e balcões, e o abastecimento com os produtos.
A outra frente, iniciada agora, é a ocupação do espaço físico pela atividade econômica. Webinho, bem como outros comerciantes locais, passaram por acompanhamento especializado, que seguirá acontecendo pelo período de um a três anos após a abertura, a depender das necessidades do negócio. “Tem todo um olhar estratégico para esses negócios, para que eles possam existir no mundo virtual também, por exemplo. Tem assessoria em marketing digital, voltada para a competitividade. Nesses próximos meses, o foco é estabelecer a maturidade da gestão, para que os comerciantes possam ganhar um horizonte de sustentabilidade”, explica Macedo.
O especialista refere-se não apenas à mercearia, mas também aos outros pequenos comércios que serão retomados gradualmente, em paralelo ao recomeço da vida comunitária. A recuperação das condições econômicas começou com a identificação dos tipos de negócios existentes, que variavam entre formalizados e informais. Também foram definidas as possibilidades de criação de novos negócios para moradores que sofreram impactos econômicos após o rompimento da barragem. Assim, esse trabalho prévio mapeou diferentes perfis de empreendedorismo e desenhou as estratégias para a estruturação de cada um. “A gente tem logo aqui em cima um beneficiamento de mel, como se fosse uma indústria. A gente tem bares, restaurantes, pousada, lanchonetes, ateliê de costura, salão de beleza, sorveteria. É uma gama extensa com produtos e serviços que são a cara da comunidade”, complementa Macedo.
O resultado do trabalho começa a ganhar materialidade nas fachadas de alguns imóveis do novo distrito. Além da Barbosa’s, as placas de um ateliê de costura, de um bar, de uma confeitaria e de uma loja de roupas foram instaladas. As logomarcas, criadas sob medida para cada comerciante, refletem memórias e aspirações ligadas a cada negócio. A cor verde, por exemplo, era a preferida de José Barbosa, e estampa também sacolas e uniformes com o sobrenome da família. “Agora é continuar o que o pai deixou para a gente, para a nova geração da família Barbosa. Nesse momento, minha idade já pesou. É hora de curtir com os meus filhos o que eu não curti com eles na infância. É gratificante demais estar perto”, finaliza Webinho.
Elizabeth Maria do Carmo Soares
Que bom saber que uma família está retornando às suas atividades, superando e encorajando a tantos (imagino) a fazerem o mesmo!
Parabéns a todos que trabalham, para que mais e mais famílias retornem e superem! Fico feliz por meu filho fazer parte dessa equipe! Valeu Renova!