Por Paulo Rocha, líder da área de Economia e Inovação da Fundação Renova
Quando a Fundação Renova foi instituída, em julho de 2016, seu objetivo foi claramente estabelecido: compensar os danos sofridos pelas pessoas atingidas, reparar os impactos ambientais no Rio Doce e reconstruir as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.
Além dessas atividades, alguns propósitos também foram endereçados à Fundação, de maneira a contribuir com o desenvolvimento social, ambiental e econômico da região afetada. Dentre esses objetivos, pode-se destacar o desenvolvimento de cadeias e negócios coletivos, inovadores e sustentáveis, que contribuam diretamente com a melhoria da qualidade de vida nos 39 municípios. Outro objetivo importante é a atração de investimentos em grande escala, promovendo maior diversificação econômica no município de Mariana.
As cidades da chamada Calha do Rio Doce têm uma natureza econômica heterogênea. Muitas delas são eminentemente agrícolas. Algumas têm no comércio e serviços locais sua principal fonte de recursos. Não são incomuns cidades onde o poder público exerce o maior peso econômico. Poucas flertam com o setor industrial. Dentre essas últimas, estão as do Vale do Aço, proeminentemente siderúrgico, e cidades mineradoras como Mariana.
Independentemente da dimensão do impacto econômico causado em cada município atingido pela lama e de como esse impacto foi somado à crise econômica recente, a Fundação Renova entende que o melhor caminho para promover desenvolvimento e diversificação econômica, no longo prazo, deve ser o mesmo: estimular o empreendedorismo e novas cadeias de negócios sustentáveis.
Entretanto, um dos desafios da atuação da Fundação, nessa frente de promoção de desenvolvimento, é criar e implementar programas e projetos que alinhem as expectativas de curto prazo com uma visão de longo prazo efetivamente transformadora, sempre tendo em vista o potencial de cada região.
Tomando como base Mariana, primeiro arraial e primeiro município de Minas Gerais: a cidade foi a primeira afetada pelo rejeito de Fundão, tanto física quanto economicamente. Oitenta e nove por cento de sua arrecadação vinha, até 2015, dos royalties e impostos pagos pela mineração. Hoje, sua taxa de desemprego é estimada no dobro da média nacional. É imperativo que qualquer agenda de diversificação econômica no município olhe para o futuro, assim como busque cuidar do presente.
Faz-se necessário aliar políticas para a geração de emprego imediata nos municípios, assim como propiciar a construção de um futuro sustentável para as comunidades. Pouco adianta termos um setor pujante hoje, sabendo-se que amanhã estará exaurido e deixará poucos resultados para a geração seguinte.
Cuidando do presente, a Fundação Renova tem criado projetos e adotado políticas que priorizam a contratação de empresas e pessoas das próprias comunidades. A Fundação apoia o desenvolvimento de cooperativas agrícolas e de serviços, criando, junto com parceiros relevantes, fundos destinados ao reaquecimento de micro e pequenos negócios (os maiores empregadores da região) e orientados a atrair investimentos de grande porte (que usam mão de obra intensiva e geram volume de impostos relevantes). Também tem investido em qualificação profissional.
Olhando para o futuro, a Fundação vem desenvolvendo projetos de estímulo ao empreendedorismo e fomentando a pesquisa para a construção de conhecimento e soluções de problemas diversos. Também tem buscado investir na criação de novos negócios – de startups tecnológicas a pequenas cooperativas de trabalho artesanal – entendendo sempre que na Nova Economia do século XXI haverá lugar apenas para o sustentável, o verde, o inclusivo e o criativo.
Mas todas essas ações e recursos empregados não serão suficientes para oferecer um legado econômico real para Mariana e para os demais municípios da Calha do Rio Doce se não existir uma coesão de atores políticos, sociais e econômicos que discutam, entrem em acordo e implementem políticas que levem em consideração as diferentes visões em torno dos vários modelos de desenvolvimento existentes. Sem extensa participação social e entendimento de quais setores se quer fomentar, que negócios potencializar e quais os caminhos se quer seguir, o desenvolvimento econômico regional se transforma em uma promessa vazia e cara.