Cerca de 550 hectares de florestas foram recuperados em propriedades rurais na bacia do rio Doce, entre Mariana e Ponte Nova, em Minas Gerais.
A restauração florestal nas áreas onde houve depósito de rejeitos foi concluída, atividade fundamental para a saúde dos cursos d’água. O trabalho envolveu 202 propriedades rurais localizadas nos municípios mineiros Mariana, Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova, com adesão e autorização dos produtores rurais. A região abrange um trecho de cerca de 100 quilômetros, onde estão os rios Gualaxo do Norte e Carmo, que sofreram o primeiro impacto ambiental do rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015.
Até o momento, a Fundação Renova destinou R$ 356 milhões para a reparação de cerca de 550 hectares de florestas e Áreas de Preservação Permanente (APPs). Aproximadamente, 300 mil mudas de 96 espécies nativas foram plantadas nas áreas afetadas. Todos os hectares foram protegidos por cercamento ou pela própria vegetação nativa existente no local. Foram executados em torno de 526 km de cerca para proteger e delimitar as APPs, com os resultados visíveis. Foram observados, nos plantios realizados, indicadores como cobertura vegetal acima de 80%, índices satisfatórios de massa vegetal acima do solo, índice de solo exposto comparado ao período pré-rompimento e aumento de regenerantes de diversidade de espécies nas áreas.
A próxima etapa será de monitoramento ecológico da região para avaliar a efetividade da restauração e dos métodos usados. A partir do levantamento de dados, será analisada a necessidade de ações corretivas. A Fundação Renova ficará encarregada pelas manutenções, como roçadas, adubações, combates a formigas e replantios, caso necessário, até 2026. A previsão é que sejam destinados R$ 81 milhões para esta fase.
Para Giorgio Peixoto, gerente do Uso Sustentável da Terra da Fundação Renova, as ações feitas na calha do rio e em seus afluentes geram aumento na produção de água também no lençol freático. “Além disso, as atividades reduziram os riscos de erosões ao evitar o carreamento de sedimentos ao rio. As ações também possibilitaram a melhoria da qualidade da água nos rios e o aumento da qualidade do solo a partir da infiltração. Permitiu também uma recuperação mais rápida das áreas de preservação permanente”, diz.
O início
Um plantio emergencial de 800 hectares com gramíneas e leguminosas de rápido crescimento para controle da erosão deu início às ações de recuperação ambiental, em 2015 e 2016. Em paralelo, calhas, margens e planícies foram regularizadas e receberam revegetação, junto com a recomposição da mata ciliar, atividade que contribui para a qualidade da água dos rios.
O resultado de um plantio piloto para testes de restauração florestal sobre rejeitos, em 2017, foi o respaldo para definição da metodologia de preparo inicial do solo afetado e sobrevivência de espécies. Segundo Giorgio Peixoto, essa ação é inovadora dentro da comunidade científica e no mercado de restauração florestal. “Até então, todas as atividades tiveram que ser adaptadas para esse tipo de área. O tamanho da cova, a adubação após as análises de solo e até mesmo as mudas nativas tiveram um cuidado e tratamento diferenciados”, afirma.
Pesquisas
A partir de estudos no solo afetado, coordenados por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o reflorestamento se tornou viável, em 2018. Maria Catarina Kasuya, especialista em microbiologia do solo, analisou amostras de mudas que receberam substrato à base de tipos de fungos e bactérias para repovoar áreas afetadas e permitir um crescimento com qualidade e eficácia. A pesquisa indicou também que o processo de revegetação emergencial auxiliou na repovoação da biomassa microbiana dos solos. Com os microrganismos, foi possível cultivar mudas resistentes a solos críticos, como trechos onde há rejeitos.
Em paralelo, estudos realizados pelo professor titular do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, Sebastião Venâncio, mostraram que o rejeito não impede o processo de recuperação ambiental, se houver a aplicação de técnicas de manejo e melhoria na fertilidade do solo com nutrientes adequados.
Mapeamento
O Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), acordo que instituiu a Fundação Renova, em 2016, previa o reflorestamento de 2 mil hectares. Após estudos detalhados, foi concluído que dessa área cerca de 550 hectares eram passíveis de reflorestamento. O restante, em torno de 1450 hectares, corresponde a corpos d’água, construções civis, rochas, estradas consolidadas, áreas agrícolas, áreas íngremes, areal, vilas, como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, cidades, como a sede de Barra Longa, faixa de servidão, passagem para dessedentação animal e áreas de inundação. Com o mapeamento das regiões, foi possível destinar cada uma dessas áreas a ações específicas de atuação da Fundação Renova na reparação.
Participação dos produtores rurais atingidos
Para engajar 202 proprietários na restauração ambiental, foi necessária a retificação ou a elaboração do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O trabalho só teve início após a assinatura de um termo de adesão à adequação ambiental por parte do dono do terreno e a apresentação do projeto específico da propriedade. Com a autorização, a Fundação Renova iniciou o cercamento para proteger e delimitar a área de APP. Em seguida, com o preparo de solo, a equipe em campo realizou o combate a formigas, adubação e o plantio das mudas nativas.
A demarcação das faixas de APPs a serem recuperadas se dá por meio do dimensionamento exigido na legislação florestal, em atendimento às diretrizes estabelecidas pela lei federal nº 12.651/2012, e, quando couber, pela lei nº.11.428/2006, até a regulamentação do Programa de Regularização Ambiental no Estado de Minas Gerais.
Além de autorizar e aderirem à adequação ambiental, alguns proprietários rurais realizaram atividades de implantação, como o plantio e a manutenção do que foi plantado. “Nesse processo, o dono do terreno efetua a atividade e recebe por isso, com os insumos sendo fornecidos pela Fundação Renova. É uma forma de parceria que cria um sentimento de dono de uma área preservada e gera uma receita a mais para o atingido”, afirma Giorgio Peixoto.
Ater Viveiros Familiares
Cerca de 20 mil mudas saíram de propriedades atingidas por meio do Ater Viveiros Familiares, criado pela Fundação Renova. A ação visa a estruturação de unidades viveiristas e o fomento econômico local dentro de propriedades rurais atingidas pelos rejeitos, localizadas em Mariana e Barra Longa.
Em 2019, os produtores atingidos receberam capacitação técnica e mudas resistentes a solos com rejeitos cultivadas a partir das pesquisas da UFV. Após meses de cultivo e manejo das mudas de espécies nativas ao longo de 2020, os novos viveiristas comercializaram as mudas para a Fundação Renova.