A parceria entre Emater-MG e Fundação Renova leva soluções tecnológicas para estimular a produção sustentável nas comunidades rurais atingidas
O sítio da família de Rafael Arcanjo, produtor de leite na comunidade de Gesteira, em Barra Longa (MG), poderia ser o retrato de terra arrasada, com pastos degradados. Mas não é. O local, atingido pelo rompimento da barragem, vem se transformando em um cenário de oportunidade e esperança para agricultores que também tiveram as propriedades atingidas pela lama ao longo do Rio Doce.
Em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), a Fundação Renova levou produtores rurais à propriedade que foi usada como piloto pelo Instituto BioAtlântica (Ibio), ainda na fase emergencial, pós-rompimento da barragem, para a implementação de tecnologias sustentáveis. No dia 31 de agosto, durante o 1º encontro de capacitação “Terra Nossa”, iniciativa da Fundação Renova que pretende oferecer alternativas para recuperação das 279 propriedades atingidas, os produtores rurais tiveram a oportunidade de conhecer algumas destas tecnologias e ver, na prática, os resultados alcançados pelo Rafael Arcanjo ao aplicá-las. A ideia é que famílias rurais integrem a produção com a conservação ambiental, gerando benefícios sociais e econômicos.
Entre as soluções estão o manejo racional de pastagens com a melhora da qualidade do alimento para a criação de gado; o uso e conservação do solo com a construção de “barraginhas” nas áreas de pastos (para captação de águas de chuvas) e a instalação de fossas sépticas para o tratamento do esgoto doméstico.
A meta é melhorar a capacidade produtiva do solo, possibilitando o aumento da renda, caso seja o desejo das famílias, conforme explica o líder de Operações Agroflorestais da Fundação Renova, Thomas Lopes Ferreira. “Sabemos que a região tem uma presença expressiva de pequenas propriedades e é interesse da Renova promover diálogo sobre essas tecnologias de manejo racional de pastagens, de saneamento rural e de uso e conservação do solo. Os primeiros resultados são positivos, mas temos que entender como essas tecnologias funcionarão em cada propriedade”, afirmou.
No sítio de Rafael Arcanjo, é possível observar os primeiros resultados alcançados com a recuperação da produção leiteira. Antes do rompimento da barragem, ele tirava 127 litros de leite por dia. Com o impacto da lama na propriedade, esse volume caiu pela metade. Agora, com a implementação do projeto, a produção retornou para cerca de 120 litros/dia. O resultado foi obtido com a garantia da pastagem verde e sustentável para alimentar o gado.
“No começo, quando essas técnicas foram apresentadas, admito que estranhei bastante. Porém, conversando com a minha família, entendemos que do jeito que estava não poderia ficar. Era preciso fazer algo. Então, resolvemos testá-las. Ainda é uma fase de experiência, tem alguns pontos a serem corrigidos e outros ajustes a serem feitos, mas estou gostando bastante dos resultados”, avalia o produtor.
As propostas surgiram após uma pesquisa da Renova sobre o modo de vida de cada produtor e quais recursos usavam em suas terras na região. Esse plano, que prevê tornar as propriedades sustentáveis, foi elaborado em parceria com a Emater-MG. “Estamos confiantes de que essa experiência dará certo. É um projeto que fortalece o vínculo com os produtores, principalmente, com a troca de experiência entre eles”, explica Jucélia Leite, extensionista da Emater em Barra Longa.
A próxima etapa é seguir com as discussões com os produtores, em reuniões mensais de capacitação. O plano de recuperação de cada propriedade será traçado individualmente, de acordo com as características de cada uma.
“Estamos iniciando o diálogo com as comunidades atingidas, entendendo que há um conjunto de tecnologias sustentáveis de baixo custo e que podem ter eficácia na recuperação das terras, principalmente, naquelas dedicadas à agricultura familiar. É o início do processo de capacitação que tem que ser feita ouvindo as famílias, aliando com o conteúdo técnico-científico das instituições parceiras. A responsabilidade de recuperação das propriedades é da Renova, mas, acreditamos que se construirmos juntos com a sociedade conseguiremos ter mais êxito”, explica Thomas.